Memórias de docentes leigas no ensino rural da região colonial italiana, Rio Grande do Sul (1930-1950)
Terciane Ângela Luchese, professora e pesquisadora do CNPq, Universidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Luciane Sgarbi Grazziotin, professora, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil
“Depois, então, vinha um ponto de História, Civilidade, a gente ensinava muito como a criança deve se portar, sentada, na igreja, perante as pessoas, como ela deve tomar a sopa, então a gente fazia aquele jeitinho com a colher, como deve ser […]. Essas coisas assim de higiene, escovar os dentes todas as manhãs, após as refeições, nunca ir pra mesa sem lavar as mãos […]. Toda essa parte de civilidade se ensinava muito às crianças, por que elas precisavam disso, não é? Por que eram crianças assim da colônia, que não tinham certas regras assim de higiene. […] Às vezes se dava um desenho. Geografia se explicava sobre Caxias do Sul, que é a cidade onde eles moram; depois o Estado.” Assim, a professora Guilhermina Lora Poloni Costa vai rememorando as práticas, os saberes e os modos de constituir o cotidiano escolar rural, entre as décadas de 1930 e 1950.
Entrelaçando memórias de professores que atuaram nas antigas colônias Conde d’Eu, Dona Isabel e Caxias – Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul – com outros documentos, as pesquisadoras Terciane Ângela Luchese e Luciane Sgarbi Grazziotin publicaram o artigo na Educação e Pesquisa, volume 41, número 2 que põe em evidência a escola rural e o seu cotidiano.
O corpus empírico contou com narrativas de docentes pertencentes a dois acervos: Banco de Memórias do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHMJSA) e Instituto Memória Histórica e Cultural, mantido pela Universidade de Caxias do Sul. Aos documentos orais acrescentaram-se, ainda, diversos documentos das intendências e órgãos administrativos da educação, analisados com o aporte da História Cultural.
A investigação analisou experiências vividas em escolas isoladas rurais que permitiram (re)construir o cotidiano da educação escolarizada e aspectos da vida comunitária. As professoras leigas contaram sobre como organizavam suas aulas, o que ensinavam, o modo como procediam para ensinar turmas heterogêneas, sua relação com alunos e familiares. Esses aspectos de uma cultura escolar singular possibilitam visualizar as aulas rurais, como a eternizada pelo registro fotográfico apresentado nesta postagem.
O fio que une as lembranças são as memórias sobre a educação em um espaço geográfico e social. A análise das memórias das professoras leigas na RCI na temporalidade estudada permite uma percepção diferenciada da História da Educação na Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul. As lembranças desses professores assumem, ao mesmo tempo, significados particulares quando manifestam sentimentos e experiências singulares, mas também coletivas, quando se entrelaçam em pontos de contato, que se articulam e se estruturam produzindo um passado que é recomposto, trazendo dimensões difíceis de perceber através de documentos escritos.
Para ler o artigo, acesse:
LUCHESE, T. Â. e GRAZZIOTIN, L. S. Memórias de docentes leigas que atuaram no ensino rural da Região Colonial Italiana, Rio Grande do Sul (1930 – 1950). Educ. Pesqui. [online]. 2015, vol.41, n.2 pp. 341-358. [viewed 02nd July 2015]. ISSN 1678-4634. DOI: 10.1590/S1517-97022015041795. Available from: http://ref.scielo.org/rzmgp4
Link externo:
Educação e Pesquisa: http://www.scielo.br/ep/
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