O talian, entre outras línguas de imigração do Brasil, foi fortemente combatido pela Campanha de Nacionalização do Ensino Primário, durante o Estado Novo (1937-1945). Nesse período, falantes de talian das regiões brasileiras que receberam imigrantes eram perseguidos e militarmente punidos por utilizarem sua língua materna. Essa repressão tinha origens nacionalistas: visava a “unificação lingüística” do país, com base no ensino de português como língua oficial e nacional do Brasil e no combate às línguas maternas, à cultura e aos costumes dos imigrantes e seus descendentes. O efeito dessa política de opressão lingüística é ponto central para a compreensão da atual atitude lingüística de falantes de talian e para a compreensão da perda lingüística que sofreu o Brasil, em especial o Sul, em nome da orientação ditatorial Revista Língua & Literatura para o monolingüismo. A opressão às línguas de imigração se iniciou nas escolas, ambiente social no qual crianças vivenciavam as práticas pedagógicas em sua língua materna (nas línguas herdadas de
seus ascendentes).
seus ascendentes).
Nesses ambientes, a brasilização tornou obrigatório o ensino do Português, assim como o de História e Geografia do Brasil e o de Educação Moral e Cívica, na mesma marcha em que proibia as línguas e as manifestações culturais que considerava estrangeiras. A essa época, com a violenta proibição do uso da língua ‘estrangeira’ nas escolas, nos serviços públicos e militares e até mesmo nas lápides e nas práticas religiosas, a campanha de nacionalização já havia criado nos imigrantes e descendentes a atitude lingüística que em pouco tempo acarretaria a perda do espaço político-cultural e social que suas línguas possuíam na região de colonização.
O orgulho da língua e da cultura cedeu lugar ao medo e à vergonha do falar vêneto, do falar trentino, do falar friulano, do falar talian– esses falares passaram a ser sinônimos de ignorância, já que prestígio que se passou a atribuir à língua oficial era tão alto quanto o desprestígio que avançava sobre as línguas de imigração. Não era mais desejo dos imigrantes que suas crianças aprendessem no lar a língua de seus antepassados, agora, era necessário e obrigatório entrar na rota do monolinguismo do Português.
A perseguição aos imigrantes e seus descendentes, que eram, sobretudo, moradores de áreas rurais, representou brutal violência. Dentre os efeitos provocados por essa agressão, a autora relaciona: mortificação do eu, dor, humilhação, desprezo, incompreensão e injustiça, medo e vergonha da língua materna. Com a proibição do uso da língua taliana, os colonos imigrantes amargaram a anulação de sua cultura, a tentativa de apagamento das marcas de sua identidade étnica e sentiram fortemente os efeitos sociais dessa intervenção: atividades comerciais, costumes e manifestações culturais, hábitos religiosos, toda a “aparição social” passou a ser um risco para aqueles que tinham a língua de imigração como única forma lingüística de comunicação, afinal, esta era sua língua, a língua de seus pais e de toda comunidade lingüística em que estavam inseridos.
texto extraído de : http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistalinguaeliteratura/article/view/68
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