Apresentação

O Forlibi surgiu da necessidade de unir as línguas brasileiras de imigração com o objetivo de instaurar um diálogo permanente entre estas comunidades linguísticas, e se propõe a ser um espaço de pesquisa, mediação e articulação política em variadas frentes para o fortalecimento das mesmas. Reunindo falantes e representantes das línguas de imigração e de instituições parceiras, tem como propósito delinear ações coletivas para a promoção das línguas nas políticas públicas em nível nacional.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Programa raízes da TV Gazeta (ES) sobre os pomeranos

Reportagem da filial da TV Globo no Espírito Santo , a TV
Gazeta, no programa raízes, abordando a chegada dos pomeranos a região ,
além de toda suas características culturais e modo de vida. confiram

  


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Filme conta emigração de suíços em Joinville

Suíços tiveram participação importante na colonização do Sul Brasileiro, dando origem a Joinville, atualmente uma das mais importantes e belas cidades da região. Um filme brasileiro mostra as condições da época que motivaram emigração e a chegada de um grupo de suíços ao Brasil.
  

A proposta do filme é resgatar uma parte quase apagada história de uma das mais importantes cidades do Sul brasileiro – Joinville, no estado de Santa Catarina - a partir da chegada de colonos suíços, há 160 anos.  O filme foi realizado com recursos de incentivos fiscais brasileiros (Lei Rouanet) e do Governo da Suíça (federal e cantonal) e produzido pela suíça Katharina Beck.
 Para brasileiros comuns, que jamais associariam a imagem de crise e miséria a um país como a Suíça, a primeira surpresa é ver como a fome e as dificuldades econômicas compeliram o país a promover a emigração de seus miseráveis e indigentes para além-mar, confiscando os bens daqueles que ainda os tinham
antes de partir em busca do Eldorado ou, pelo menos, da sobrevivência.

 Pobreza motivou a emigração

A outra novidade é a revelação de que a colonização de Joinville, no estado sulista de Santa Catarina, teve início com a chegada dos colonos suíços, e não dos alemães, como se atribuía até o lançamento do livro de Dilney Cunha que deu origem ao seu roteiro. O livro, publicado em 2003, trouxe à luz a importante participação dos colonos suíços na formação e desenvolvimento daquela região do Sul brasileiro. A partir de Joinville, os suíços migraram para outros centros, como Curitiba, no Paraná (estado vizinho).

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Brasil e Suíça se encontram em uma “Têra Novala”

Um livro “poliglota” editado por um ex-funcionário do Banco Central do Brasil procura manter viva a história e a linguagem de uma época.
 
A autora "Titi", Anne-Marie Yerli, autografa seu livro "poliglota". 
A autora "Titi", Anne-Marie Yerli, autografa seu livro "poliglota". 

 Têra Novala”, Terra Nova em dialeto da região de Gruyère, conta a aventura de emigrantes suíços ao Brasil em 1819, em várias línguas e dialetos. O livro é uma aula de história e de francês, alemão, português e dialetos da Suíça.
A obra é fruto de uma amizade sem fronteiras e o tema um assunto cada vez mais da atualidade, essa é a impressão que se tem ao folhear a obra da suíça Anne-Marie Yerly, traduzida por Alberto Wermelinger e Daniel Folly, que põe em cena o destino de 3 famílias suíças que partem ao Brasil, em 1819.

Apresentado em grande estilo com cantos do coral “Lè Tserdziniolè” e muitos discursos em vários idiomas e dialetos, o livro também faz uma homenagem ao folclore e às tradições de uma região: a Gruyère, terra do famoso queijo e de muitos ancestrais de brasileiros.

Vestido em trajes típicos da região, o brasileiro Alberto L. A. Wermelinger Monnerat, editor da obra, apresenta o resultado de sua paixão pela história da emigração suíça ao Brasil e da solidariedade de dois povos.

Na ocasião também foi apresentado o projeto “Rural Legal”, que pretende, com o benefício da venda do livro, dinamizar a economia de uma das regiões de Nova Friburgo mais afetadas pela tempestade do começo do ano, com propostas de capacitação do pessoal atingido na cadeia econômica do turismo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O dialeto esquecido


Cena do documentário "Walachai" (2009), de Rejane Zilles: dialeto como afirmação de uma cultura
No Rio Grande do Sul, a 100 quilômetros de Porto Alegre, fica Walachai, um povoado de origem alemã que sempre viveu à margem. Na pequena comunidade rural, localizada na Serra Gaúcha, as pessoas falam um dialeto alemão chamado Hunsrückisch – também conhecido como “hunsriqueano” – e ainda vivem como se vivia cem anos atrás. Não por acaso, Walachai quer dizer “lugar distante, onde o tempo parou” em alemão antigo, expressão que faz jus ao seu clima bucólico.
O dialeto hunsriqueano, com origem na região do Hunsrück, no sudoeste da Alemanha, é uma das línguas minoritárias mais faladas no Brasil. Por “língua minoritária” entenda-se o idioma de uma minoria étnica situada numa dada região. O dialeto hunsriqueano representa uma das trinta línguas trazidas ao país por imigrantes, ao lado de aproximadamente 180 línguas indígenas existentes no Brasil. Embora não haja um levantamento preciso sobre o número de pessoas que falam o dialeto, sabe-se que estão espalhados em 38 localidades, a maioria no sul do país – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – onde os primeiros alemães se concentraram, no início do século 19.

Arcaico

O distrito de Walachai ficou conhecido quando um professor local, João Benno Wendling, decidiu registrar a história de seu povoado em livro, ao qual teve acesso a diretora de cinema Rejane Zilles, natural da cidade.Foi o bastante para que ela resolvesse transformá-lo no documentário O Livro de Walachai (2007), mais tarde retomado no longa-metragem Walachai (2009), exibido na 33ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro passado. Wendling dedicou toda sua vida à alfabetização em português das crianças do distrito, e suas anotações, mais de 400 páginas escritas à mão, formam um relato minucioso da cultura e dos costumes locais.– Fiquei comovida com a dedicação abnegada deste homem, que durante nove anos, sem nenhum auxílio, se dedicou a registrar a história do nosso povoado. Percebi que tinha ali um ótimo roteiro, mas o tempo urgia, pois o professor na época já tinha 82 anos e a saúde debilitada – conta Rejane.O hunsriqueano é uma espécie de alemão arcaico, recheado de expressões que não encontram mais equivalência na língua alemã atual. Esse dialeto vem sendo transmitido de geração em geração desde a chegada dos primeiros imigrantes alemães, há mais de 180 anos. Por ser essencialmente falado, o hunsriqueano praticado no Brasil não dispõe de uma escrita sistematizada, valendo-se, normalmente, do chamado alemão-padrão (Hochdeutsch) e do português para o registro.


Identidade

O professor Cléo Altenhofen, do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que são frequentes e notórios os juízos de valor depreciativos sobre as línguas minoritárias, em especial aquelas orais, caso do hunsriqueano. – Essa condição de dialeto, situado abaixo da norma padrão, e de língua marginal submissa à língua oficial, o português, aliada à posição social dos imigrantes, tem dado margem a depreciações do Hunsrückisch, incluindo atributos como verlorene Sproch ["língua perdida"], vebrochne Deitsch ["alemão quebrado"] ou Heckedeitsch ["alemão do mato"] – diz Altenhofen.

O professor destaca o valor social do dialeto. – Uma língua significa muito mais do que uma lista de palavras ou de regras gramaticais. É também um sinal de identidade – justifica.


Empréstimos

A diretora Rejane Zilles sentiu na pele, durante uma viagem pela Alemanha, o peso da identidade e o “anacronismo” do dialeto de Hunsrück em relação ao alemão culto.– Cheguei a Berlim falando apenas o dialeto. Eu me sentia quase um “objeto antropológico”. As pessoas tinham enorme curiosidade para saber de onde vinha esse alemão que eu falava e me diziam ser curioso ouvir uma pessoa jovem usando expressões tão antigas – diz ela. Essa cultura própria, independente da matriz alemã, se evidencia nas influências do português sobre o hunsriqueano. Muitas palavras foram tomadas de empréstimo pelo dialeto devido à falta de conhecimento de suas correspondentes em alemão-padrão. Bom exemplo é “televisão”, que não fora inventada à época da imigração. Foi “descoberta” mais tarde só pelo nome que lhe deram aqui no Brasil, ignorando que na Alemanha o aparelho chamava-se Fernseher. Há exemplos de hibridismos: Mais (milho) é de origem alemã, mas não era usada pelo dialeto. Em vez do alemão-padrão Maismehl (farinha de milho), o hunsriqueano criou o termo Milhomel. E de substrato: “guri”, “menino” para os gaúchos, vai para o plural hunsriqueano com a flexão -e do paradigma alemão: Gurie (outros exemplos no quadro abaixo).


HunsriqueanoPortuguêsAlemão-padrão
FeschónFeijãoBohnen
FakónFacãoBuschmesser
KarétCarretaLastwagen
AmescheNêspera-
PastPastoWeide
MakákMacacoAffe
MuleMulaMaultier
OnzeOnçaJaguar
SchikótChicotePeitsche
KaroseCarroçaLeiterwagen
SchuraskeChurrascoGrill
KanelepaumCaneleiraZimtbaum
Fonte: O hunsrückisch no Brasil: a língua como fator histórico da relação entre Brasil e Alemanha, Karen P. Spinassé (Espaço Plural, 19, 2008)

Segregação

Regina Zilles diz que, ao rodar o documentário, queria desfazer o mito de que as comunidades alemãs optem pela segregação cultural. – Muitos acham que “esses alemães” ficam louvando a Alemanha e seus costumes, ao modo das típicas festas de Oktoberfest. É claro que há esse segmento, mas não é a realidade de Walachai, um lugar que conheço de dentro, pois nasci lá. A Alemanha de origem está muito distante para essas pessoas humildes, da qual não sabem nada e nem demonstram interesse em conhecer. Já se criou uma cultura própria e essa sim me interessa revelar – diz. Há uma real dificuldade, especialmente entre os idosos em Walachai, de falar português. Isso se deve, em parte, à política de nacionalização do Estado Novo (1937-1945). Getúlio Vargas reprimiu o ensino de alemão nas escolas. A proibição, de forma vertical e arbitrária, prejudicou o aprendizado do português, pois os alunos chegavam à escola e não entendiam o que o professor explicava. Mesmo depois de 1939, com a Campanha de Nacionalização do Ensino, o governo não tomou medidas que incorporassem os colonos alemães à cultura brasileira, e o aprendizado de toda uma geração foi afetado. Durante todo esse tempo, Walachai viveu o limbo de dois idiomas que se cruzam. (Edgard Murano, “O dialeto esquecido”, revista Língua Portuguesa n. 52, Jan/2010)



Fonte: Edgardm