Apresentação

O Forlibi surgiu da necessidade de unir as línguas brasileiras de imigração com o objetivo de instaurar um diálogo permanente entre estas comunidades linguísticas, e se propõe a ser um espaço de pesquisa, mediação e articulação política em variadas frentes para o fortalecimento das mesmas. Reunindo falantes e representantes das línguas de imigração e de instituições parceiras, tem como propósito delinear ações coletivas para a promoção das línguas nas políticas públicas em nível nacional.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Aluna da UnB é primeira cigana a concluir doutorado na América Latina

Foto: Marcelo Jatobá/UnB Agência
Aluna da UnB é primeira cigana a concluir doutorado na América Latina

Paula Soria teve de deixar seu grupo, que preza a oralidade e rejeita a escrita, para estudar. Em sua tese, analisa os estigmas atribuídos aos romà na literatura

Marcela D´Alessandro - Da Secretaria de Comunicação da UnB

A tese de 330 páginas e a dissertação, de 112, foram pouco para preencher a necessidade e a vontade de estudar de Paula Soria. Agora doutora em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), a pesquisadora, que pertence ao grupo romà – nomenclatura para ciganos, ratificada durante o I Congresso Mundial Romani, realizado na Inglaterra em 1971 –, espera que sua história seja exemplo para que outras romani possam trilhar trajetórias acadêmicas sem abandonarem seu povo.

Apesar dos obstáculos que teve de enfrentar para chegar ao título, Paula se prepara para continuar no caminho da pesquisa. "Tem muita coisa para escrever ainda. Meu desejo era começar e não parar nunca mais", afirma Paula, que já pensa em desenvolver outro trabalho, abordando estudos culturais, para aprofundar o tema pelo qual se diz apaixonada.

Oriunda de uma comunidade que valoriza a oralidade e rejeita a escrita, começou os estudos aos 10 anos de idade, quando teve a permissão de seus pais. O combinado era que ela, assim como as outras romani que ingressavam na escola, deixasse os livros para se casar, aos 15 anos. Seu casamento já estava arranjado, mas Paula tinha sede de aprender desde criança.

Para seguir com seu sonho, a menina teve de deixar a casa dos pais e a família romani – de quem pôde reaproximar-se e ganhar algum apoio só depois de muito tempo.  Nessa trajetória, contou com a ajuda de amigos e, posteriormente, do marido não-romà para seguir com os estudos. Terminou o ensino básico, o superior e se formou jornalista na Universidad Nacional Autónoma de Honduras (UNAH). Seguiu pela Argentina e, já no  Brasil, graduou-se no curso de Artes Cênicas da UnB.

"Na minha cultura tem muitos artistas e a gente acaba achando que tem que ser artista também", afirma a romani, com bom humor. "Mas eu sempre gostei de literatura e já na minha graduação comecei a buscar disciplinas nesse campo para entender um pouco mais daquele mundo que me fascinava desde pequena".

Paula Soria (à esquerda) e sua orientadora Sara Almarza - Foto: Marcelo Jatobá/UnB Agência.

No mestrado – realizado no Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB –, Paula analisou, entre outros, dois romances do rom argentino Jorge Nedich e discorreu sobre a influência das representações literárias na realidade étnica romani e de que forma validaram as imagens negativas sobre os romà; também abordou a dificuldade de ruptura com esses padrões estigmatizados.

No doutorado, deu sequência aos estudos e buscou obras de autores não-romà de diversas nacionalidades que tratavam dos romà com diferentes abordagens – a maioria delas, segundo a pesquisa, preconceituosas e estereotipadas – e livros de escritores romà contemporâneos. De acordo com Paula, estes tentavam desconstruir tais introjeções e construir uma nova identidade.

"Procurei privilegiar o olhar de dentro para fazer algo crítico, mostrar como os romàs pensam. E para que não houvesse tanto estranhamento, tentei fazer uma espécie de tradução do que os escritores apresentam e o que aquilo significa dentro da comunidade", explica Paula.

Sua orientadora nos dois trabalhos, Sara Almarza, diz que foi uma oportunidade de grande aprendizado em muitos assuntos. "Foi uma honra ter orientado essa pesquisa. Tenho 25 anos de Universidade de Brasília e este foi o trabalho de maior envergadura que já fiz", exclama, orgulhosa, a professora.

Paula Soria e a orientadora Sara Almarza mostram a bandeira romani após a defesa da tese no Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB - Foto: Arquivo pessoal.

Mulheres Romani – Paula Soria lembra que, em boa parte dos grupos, as mulheres ainda são minoria, subalternizadas pelas sociedades majoritárias e por uma cultura interna ainda patriarcal e sexista. "Elas têm que seguir o marido, obedecê-lo, trabalhar só com ele. Em grupos como o meu, as mulheres ainda têm que ir pras ruas ler mãos porque é uma tradição, mesmo que não precise. Então, aquela que consegue romper com tudo isso e ser escritora, traz uma voz muito diferente, de minoria dentro da minoria e que sobressai muitíssimo", analisa a romani que é a primeira mulher "cigana" a concluir o doutorado na América Latina.

Segundo sua pesquisa, antes dela houve um homem rom que também chegou ao título no Brasil e sua temática se referia à Biologia. Nos demais países da América Latina, não há registros de mulheres romani doutoras.

Em sua tese, Paula afirma que, mesmo não sendo maioria entre os escritores no mundo, não são escassas as escritoras romani que se aventuram a escrever poesias, contos e romances de grande literalidade e engajamento social.

"São elas que carregam consigo a responsabilidade de transmitir a cultura, a tradição e os costumes para as novas gerações e que hoje são, visivelmente, as principais protagonistas das mudanças no seio do grupo étnico".

Paula Soria pôde observar ainda que a literatura ou a escrita não representam perda de elementos intrínsecos ao âmbito da oralidade, enaltecida pelos romà, mas permite o resgate e o registro da memória étnica e possibilita o reconhecimento desse povo perante a sociedade.

"Tenho interesse que conheçam outros aspectos do meu povo, da existência da literatura romani, do seu significado no contexto étnico atual. Dialogo com várias questões relacionadas a estereótipos, preconceitos, estigmas e a invisibilidade e silenciamentos históricos, tentando provocar também uma espécie de transformação do pensamento do leitor de minha tese ou dos artigos que penso escrever em relação aos romà", conclui.

Fonte: UnB Agência

sábado, 25 de julho de 2015

Memórias de docentes leigas no ensino rural da região colonial italiana, Rio Grande do Sul (1930-1950)


Memórias de docentes leigas no ensino rural da região colonial italiana, Rio Grande do Sul (1930-1950)

Terciane Ângela Luchese, professora e pesquisadora do CNPq, Universidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil

Luciane Sgarbi Grazziotin, professora, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil

“Depois, então, vinha um ponto de História, Civilidade, a gente ensinava muito como a criança deve se portar, sentada, na igreja, perante as pessoas, como ela deve tomar a sopa, então a gente fazia aquele jeitinho com a colher, como deve ser […]. Essas coisas assim de higiene, escovar os dentes todas as manhãs, após as refeições, nunca ir pra mesa sem lavar as mãos […]. Toda essa parte de civilidade se ensinava muito às crianças, por que elas precisavam disso, não é? Por que eram crianças assim da colônia, que não tinham certas regras assim de higiene. […] Às vezes se dava um desenho. Geografia se explicava sobre Caxias do Sul, que é a cidade onde eles moram; depois o Estado.” Assim, a professora Guilhermina Lora Poloni Costa vai rememorando as práticas, os saberes e os modos de constituir o cotidiano escolar rural, entre as décadas de 1930 e 1950.

Entrelaçando memórias de professores que atuaram nas antigas colônias Conde d’Eu, Dona Isabel e Caxias – Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul – com outros documentos, as pesquisadoras Terciane Ângela Luchese e Luciane Sgarbi Grazziotin publicaram o artigo na Educação e Pesquisa, volume 41, número 2 que põe em evidência a escola rural e o seu cotidiano.

O corpus empírico contou com narrativas de docentes pertencentes a dois acervos: Banco de Memórias do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHMJSA) e Instituto Memória Histórica e Cultural, mantido pela Universidade de Caxias do Sul. Aos documentos orais acrescentaram-se, ainda, diversos documentos das intendências e órgãos administrativos da educação, analisados com o aporte da História Cultural.

A investigação analisou experiências vividas em escolas isoladas rurais que permitiram (re)construir o cotidiano da educação escolarizada e aspectos da vida comunitária. As professoras leigas contaram sobre como organizavam suas aulas, o que ensinavam, o modo como procediam para ensinar turmas heterogêneas, sua relação com alunos e familiares. Esses aspectos de uma cultura escolar singular possibilitam visualizar as aulas rurais, como a eternizada pelo registro fotográfico apresentado nesta postagem.

O fio que une as lembranças são as memórias sobre a educação em um espaço geográfico e social. A análise das memórias das professoras leigas na RCI na temporalidade estudada permite uma percepção diferenciada da História da Educação na Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul. As lembranças desses professores assumem, ao mesmo tempo, significados particulares quando manifestam sentimentos e experiências singulares, mas também coletivas, quando se entrelaçam em pontos de contato, que se articulam e se estruturam produzindo um passado que é recomposto, trazendo dimensões difíceis de perceber através de documentos escritos.

Para ler o artigo, acesse:
LUCHESE, T. Â.  e  GRAZZIOTIN, L. S. Memórias de docentes leigas que atuaram no ensino rural da Região Colonial Italiana, Rio Grande do Sul (1930 – 1950). Educ. Pesqui. [online]. 2015, vol.41, n.2 pp. 341-358. [viewed 02nd July 2015]. ISSN 1678-4634. DOI: 10.1590/S1517-97022015041795. Available from: http://ref.scielo.org/rzmgp4

Link externo:
Educação e Pesquisa: http://www.scielo.br/ep/

sexta-feira, 24 de julho de 2015

La Lengua Talian no 1ºENMP



La Lengua Talian no 1ºENMP

Oficio n° 016

Ilmos. Sres.
Difusores do Talian
Brasil – Itália.

Serafina Corrêa, 16 de julho de 2015.

Caros Amigos

O IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística), uma das mais respeitadas Entidades do setor linguístico do Brasil estará promovendo o 1° ENCONTRO NACIONAL DE MUNICÍPIOS PLURILÍNGUES, em 23,24 e 25 de setembro de 2015, em Florianópolis – SC.

Para informações do evento, favor acessarem http://1enmp2015.blogspot.com.br, ou como segunda opção blog e-ipol.org.
Nós, DIFUSORES DA LÍNGUA TALIAN, estaremos presentes e gostaríamos que fosse um encontro de todos os amigos na defesa e encaminhamento de propostas do Talian em todos os níveis, ou seja, nacional, estadual e municipal. Também, entre outras, será uma oportunidade de elaborarmos o Encontro Nacional que acontecerá em novembro de 2015, na cidade de Bento Gonçalves.

Aproveitamos para lembrar, que disponibilizamos um Kit de como elaborar uma lei municipal para cooficialização da Língua Talian ao português no seu município. Envie mensagem ao e-mail secretario@legislativoserafina.com.br solicite o Kit.

Demo, movete perche ze belche ora de cavarte fora e far la to parte. Fale com seu Prefeito ou Vereador para fazerem a lei.

Un strucon e até Floripa.

Paulo José Massolini
Presidente

*****

Oficio n° 018

Egr. Signori
Brasiliani e Italiani

Serafina Corrêa, 16 de julho de 2015.

Cari Amissi

Tuti sà che la LÉNGOA TALIAN gà deventà “Léngoa de Riferimento Nassional e Patrimònio Cultural e Imaterial del Brasile”.

Anca se pol dir, che questa maraveiosa Léngoa ze “Patrimònio Cultural e Imaterial dei Stati del Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Meio ancora adesso, che Serafina Corrêa in 2009 e questo ano a Flores da Cunha e Bento Gonçalves, la Léngoa Talian in questi paese gà deventà per lege, “Léngoa Coofissial al portughese”.

Come gavemo una proposta importante e se gavemo fato ricever rispeto de tuti, una granda Entità Linguìstica del Brasile che se ciama IPOL (Instituto de Investigassion e Svolupo in Polìtica Linguìstica) ze drio far el 1° ENCONTRO NASSIONAL DELE COMUNITÀ PLURILÌNGUE”, in 23,24 e 25 de setembre de 2015, nela belìssima cità de Florianòpolis – Santa Catarina.

Noantri saremo presenti e se voaltri vole saber de pi, ande rento a la internet http://1enmp2015.blogspot.com.br

Noantri semo drio far la nostra parte e voaltri?

Un gran strucon

Paulo Massolini
Presidente

Fonte: e-IPOL

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Ensino do pomerano em escolas de Santa Maria de Jetibá (ES) é tema de reportagem na TV Brasil


Conheça o pomerano, idioma europeu falado no interior do Brasil

Em Santa Maria de Jetibá, município serrano do Espírito Santo, grande parte das escolas ensina a língua pomerana. A região foi colonizada por imigrantes que vieram da Pomerania, um território entre o nordeste da Alemanha e o noroeste da Polônia.

Para manter a cultura pomerana, além do ensino nas escolas, a língua é falada dentro de casa, entre os membros das famílias.

Assista à matéria do Repórter Brasil (ou clique aqui):


Fonte: EBC

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Dissertação investiga cultura e língua pomeranas em escola de Santa Maria de Jetibá (ES)

Sintia Bausen Küster (ao centro) e os integrantes da banca de defesa de sua dissertação - Foto cedida por Sintia B. Küster.

Dissertação investiga cultura e língua pomeranas em escola de Santa Maria de Jetibá (ES)

Na última segunda-feira, 13 de julho, Sintia Bausen Küster, aluna do CE/PPGE/UFES, defendeu sua Dissertação de Mestrado intitulada Cultura e Língua Pomeranas: Um Estudo de Caso em uma Escola do Ensino Fundamental no Município de Santa Maria de Jetibá – Espírito Santo – Brasil. A dissertação, orientada pelo Prof. Dr. Erineu Foerste, foi resultado de uma pesquisa desenvolvida em uma escola localizada na zona rural, na localidade de Alto São Sebastião, no município de Santa Maria de Jetibá - Espírito Santo - Brasil, que possui um número expressivo de descendentes pomeranos, estabelecidos na região no final do século XIX. Analisou em uma escola de ensino fundamental, considerando a realidade sociolinguística dos alunos, como diferentes sujeitos, que ali interagem, veem e promovem sua cultura, em especial a língua pomerana. Avaliam-se aspectos do Programa de Educação Escolar a Pomerana (PROEPO) para verificar sua contribuição para a manutenção da língua materna pomerana. 

A banca avaliadora da Dissertação foi constituída pelos professores Drª Gerda Margit Schütz Foerste (PPGE/UFES), Profª Drª Edenize Ponzo Peres (PPGEL/UFES), Profª Drª Letícia Queiroz de Carvalho (IFES) e o Prof. Dr. José Walter Nunes (Unb).

O trabalho destaca-se pelo cunho sócio-político no tocante às considerações sobre a língua e suas implicações no contexto geral da cultura e da vida social da comunidade pomerana no Espírito Santo e do Brasil em suas correlações. 

Dentre os resultados, atribui-se ao PROEPO o mérito da manutenção e salvaguarda desta língua de imigração, ao mesmo tempo em que os sujeitos da pesquisa externam preocupação quanto ao repasse da língua para as futuras gerações, bem como ampliação de debates sobre a difusão da língua pomerana em outras esferas sociais. Impactos sobre a perda da língua para o povo tradicional pomerano ainda são conjecturas, mas pode significar destruição de conhecimentos e saberes tradicionais, transmitidos entre as gerações até os dias atuais.

A partir da temática da pesquisa que analisou como os sujeitos veem, interagem e promovem a sua língua, compreendeu-se que o estudo pode contribuir para a educação escolar intercultural de contextos bilíngues, como práxis de resistência conforme discute (MERLER et al., 2013), que preconiza que os trabalhadores em geral, movimentos sociais, e os povos tradicionais de modo especial, “[...] produzem culturas alternativas como forma de resistência ao projeto hegemônico de desenvolvimento e de educação do capitalismo [...]” (p. 39).

Fonte: e-IPOL