Apresentação

O Forlibi surgiu da necessidade de unir as línguas brasileiras de imigração com o objetivo de instaurar um diálogo permanente entre estas comunidades linguísticas, e se propõe a ser um espaço de pesquisa, mediação e articulação política em variadas frentes para o fortalecimento das mesmas. Reunindo falantes e representantes das línguas de imigração e de instituições parceiras, tem como propósito delinear ações coletivas para a promoção das línguas nas políticas públicas em nível nacional.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

As marcas da repressão lingüística contra imigrantes durante o Estado Novo

O talian, entre outras línguas de imigração do Brasil, foi fortemente combatido pela Campanha de Nacionalização do Ensino Primário, durante o Estado Novo (1937-1945). Nesse período, falantes de talian das regiões brasileiras que receberam imigrantes eram perseguidos e militarmente punidos por utilizarem sua língua materna. Essa repressão tinha origens nacionalistas: visava a “unificação lingüística” do país, com base no ensino de português como língua oficial e nacional do Brasil e no combate às línguas maternas, à cultura e aos costumes dos imigrantes e seus descendentes. O efeito dessa política de opressão lingüística é ponto central para a compreensão da atual atitude lingüística de falantes de talian e para a compreensão da perda lingüística que sofreu o Brasil, em especial o Sul, em nome da orientação ditatorial Revista Língua & Literatura para o monolingüismo. A opressão às línguas de imigração se iniciou nas escolas, ambiente social no qual crianças vivenciavam as práticas pedagógicas em sua língua materna (nas línguas herdadas de
seus ascendentes). 

Nesses ambientes, a brasilização tornou obrigatório o ensino do Português, assim como o de História e Geografia do Brasil e o de Educação Moral e Cívica, na mesma marcha em que proibia as línguas e as manifestações culturais que considerava estrangeiras. A essa época, com a violenta proibição do uso da língua ‘estrangeira’ nas escolas, nos serviços públicos e militares e até mesmo nas lápides e nas práticas religiosas, a campanha de nacionalização já havia criado nos imigrantes e descendentes a atitude lingüística que em pouco tempo acarretaria a perda do espaço político-cultural e social que suas línguas possuíam na região de colonização. 

  

 O orgulho da língua e da cultura cedeu lugar ao medo e à vergonha do falar vêneto, do falar trentino, do falar friulano, do falar talian– esses falares passaram a ser sinônimos de ignorância, já que prestígio que se passou a atribuir à língua oficial era tão alto quanto o desprestígio que avançava sobre as línguas de imigração. Não era mais desejo dos imigrantes que suas crianças aprendessem no lar a língua de seus antepassados, agora, era necessário e obrigatório entrar na rota do monolinguismo do Português. 

A perseguição aos imigrantes e seus descendentes, que eram, sobretudo, moradores de áreas rurais, representou brutal violência. Dentre os efeitos provocados por essa agressão, a autora relaciona: mortificação do eu, dor, humilhação, desprezo, incompreensão e injustiça, medo e vergonha da língua materna. Com a proibição do uso da língua taliana, os colonos imigrantes amargaram a anulação de sua cultura, a tentativa de apagamento das marcas de sua identidade étnica e sentiram fortemente os efeitos sociais dessa intervenção: atividades comerciais, costumes e manifestações culturais, hábitos religiosos, toda a “aparição social” passou a ser um risco para aqueles que tinham a língua de imigração como única forma lingüística de comunicação, afinal, esta era sua língua, a língua de seus pais e de toda comunidade lingüística em que estavam inseridos.

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